Alguém disse que “escrever é uma prova de solidão, se a pessoa não estiver só não tem necessidade de escrever, escreve para se completar”.
É perdoável ao poeta sentir-se só, não é perdoável ao comum dos seres sentir-se só. A solidão não é uma opção, é para muitos um estado permanente, um modo de vida.
Escrever é o mecanismo de defesa. Escrevo para me completar, pois sem a minha escrita eu não me sinto viva, sinto-me só. Estou numa sala apinhada de gente e ainda assim me sinto só, é doloroso. Eu estou sozinha em frente de um simples pedaço de papel e de uma caneta, e ouço um mundo de vozes à minha volta. São a minha companhia nos meus momentos de solidão, as únicas pessoas com quem posso contar e é com elas que eu desabafo o que me vai na alma. Se eu não escrever, se não passar para um simples pedaço de papel todos os pensamentos que habitam a minha mente, eu elouqueço. Estas pessoas que eu crio são o meu reflexo, o que eu sou e o que eu aspiro ser um dia.
Fernando Pessoa - um génio, considerado por alguns um louco - tinha vários heterónimos, várias vidas, pessoas que sentiam, que sofriam, que eram formadas ou não, que tinham um emprego ou não, que eram viajadas ou não e que até tinham horóscopo, só faltou mesmo o número de segurança social. Estas pessoas derivaram da "loucura", da personalidade brilhante deste homem.
Fito-me frente a frente
E conheço quem sou.
Estou louco, é evidente,
Mas que louco é que estou?
É por ser mais poeta
Que gente que sou louco?
Ou é por ter completa
A noção de ser pouco?
Não sei, mas sinto morto
O ser vivo que tenho.
Nasci como um aborto,
Salvo a hora e o tamanho.
30-3-1931
Poesias Inéditas (1930-1935). Fernando Pessoa.
Mystic
Se Pessoa era louco... Também sou! O artista viverá sempre só, até ao derradeiro momento em que o seu caminho se cruza com o de todos os outros mortais.
ResponderEliminarA solidão fornece-nos armas muito poderosas para enfrentar as "loucuras" do quotidiano. O poder de abstracção é uma dessas armas, a maior e melhor ferramenta do génio criativo.